fevereiro 23, 2006

Sol de Inverno

Era um daqueles dias em que o frio que se sente sabe bem, por estar calor; em que o Sol se atreve por ser criança, por ser manhã.
É como um lapso, um deslize temporal que o tempo a nós oferece, como que por estar sonolento, ao despertar do dia.
A noite foi fria, já se sabe. Não engana a geada, não engana o orvalho sobre os canteiros, sobre os bancos de jardim.
Há, no entanto, um baloiço de tábua tosca já seco do orvalho. Está à vista a razão elementar: uma criança que se atreve por ser criança, que não tem frio por ser manhã, por ser manhã na sua vida, na sua breve existência.
Está então a criança sobre o baloiço e este uns palmos acima do solo, sobre a terra húmida a cheirar a terra húmida. A cheirar a uma terra húmida que cheira ao cheiro das manhãs, se as manhãs tiverem um cheiro. Se o tiverem é este, não outro. Porque cheira a criança, porque cheira a Astro-Criança, a Sol de Inverno.
E a criança sorriu...
Os olhos brilham, baloiçantes, no tom em que só o orvalho brilha.
Então, volta-se a casa pelas ruas estreitas, pela calçada macerada, com o cheiro a manhã e a pão fresco pela mão e sente-se uma chama colorida, uma estranha certeza de que todo o ouro que pode haver no mundo está escondido no final dos arco-íris que são os olhos brilhantes de um sorriso de criança!
(A quem não agrade a definição, no mínimo se poderá afirmar, sem contestação, que criança é um Sol de Inverno; é fazer existir, onde não pode, uma pincelada de Verão.)




Isto já é antigo e se calhar nem tem cabimento nenhum, mas como o blog tem estado parado, olhem... Sempre areja.

2 comentários:

Anónimo disse...

Relativamente a isto... Como dizer? - Bom, relativamente a isto só queria dizer uma coisa muito simples em não mais do que 5 palavrinhas apenas:

O BENFICA É O MAIOR!!! ;);)

xein disse...

Bem, podias sempre arejar mais vezes!!! :)