março 28, 2006

Ele lá sabia do que gostava...

Existe uma espantosa maravilha na arte! A liberdade! A liberdade de podermos interpretar segundo a nossa cabeça. A possibilidade de entendermos uma pintura, uma letra, uma música, de podermos raciocinar e relacionar com ela. Ora como o assunto não podia ficar por aqui nem seguir este cariz sério de quem está prestes a dizer (se calhar) qualquer coisa de jeito, decidi escarrapachar um texto do Mestre que levantou a maior das risotas e 'coranços' entre as marronazinhas da minha turma numa aula de teoria da literatura.


Dobrada à moda do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.


Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.


Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...


(...)
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Fernando Pessoa


Bem...ele lá sabia do que gostava. Quer seja esta uma reclamação sobre qualquer mau atendimento na restauração portuense da altura, que fosse outra coisa qualquer, a interpretaçao defendida pela meu professor era algo lasciva. Deixo ao vosso critério, carissimos blogóspectadores, propostas de novas possiveis interpretações.
Aproveito , já agora, para deixar aqui a minha opinião: legalizem as casas de prostituição!lol
'Té mai logo!!!

1 comentário:

Tommy_Gun disse...

Ora bem, é realmente um texto que se pode levar para maus caminhos é!
Mas daí uma coisa é mesmo certa: Dobrada á moda do porto não se come fria mesmo! lol